Uma dose de Reflexão: O consumo abusivo de bebidas alcoólicas no Brasil.
- Jader Gonçalves
- 15 de dez. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de fev. de 2024

O consumo de álcool no Brasil é uma prática enraizada na cultura, marcando presença em diversas celebrações e momentos sociais. Entretanto, é crucial abordar esse hábito com uma perspectiva crítica, pois o consumo excessivo de álcool representa sérios riscos para a saúde pública.
Nosso país é conhecido por suas festas animadas, regadas de alegria e diversão, onde o álcool muitas vezes desempenha um papel central, seja em comemorações familiares, eventos esportivos ou festivais culturais, a presença de bebidas alcoólicas é sempre uma figurinha garantida. No entanto, é importante destacar que o consumo excessivo e descontrolado de bebidas alcoólicas pode ter implicações sérias para a saúde individual e coletiva.
Os riscos associados ao consumo abusivo de bebidas alcóolicas incluem danos ao fígado, aumento da pressão arterial, comprometimento cognitivo, dependência química e uma variedade de problemas psicossociais. Além disso, o álcool está diretamente relacionado a acidentes de trânsito, violência doméstica e outros comportamentos de risco que afetam não apenas o indivíduo, mas também a comunidade ao seu redor.
Se sairmos um pouco deste aspecto geográfico geral e voltarmos nosso olhar para aquela que foi a primeira capital do Brasil, veremos que Salvador, cidade conhecida por sua rica herança cultural e festividades animadas, também se destaca pelo consumo abusivo de álcool, quando levado em conta as capitais.
Segundo a publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2020 realizada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool- CISA, com os resultados da pesquisa realizada no ano de 2018, quanto ao sexo, os soteropolitanos em 2010, corresponderam com o total de 24,2% da população que fazia o uso abusivo de álcool, onde o público masculino era de 32,8% e o feminino de 16,9% e em 2018 o total foi de 23,5% com o público masculino representando 31,6% e o feminino 16,7%. Podemos observar que passados 8 anos entre as 2 pesquisas, não ouve quase que nenhuma mudança na comparação.
Se pensarmos o que permeia os diversos aspectos da vida cotidiana da cidade, podemos ser levados a considerar que, os cenários de comemorações, incluindo o famoso carnaval, muitas vezes traz consigo o consumo exacerbado de bebidas alcoólicas, e que por conta disto, tais dados, seriam elevados e perdurariam por tanto tempo, porém, engana-se quem pensa que o comportamento abusivo ocorre apenas pelas comemorações.
Quando consideramos que no Brasil, uma dose padrão de bebida equivale a 14g de álcool puro, o que corresponde a 350mL de cerveja (com teor de 5% de álcool), 150mL de vinho (com teor de 12% de álcool) ou 45mL de destilado (vodca, uísque, cachaça, gin, tequila, com teor de 40% de álcool). O que se pode levar em consideração como consumo moderado, seria de no máximo 4 doses em único dia ou 14 doses por semana para os homens, e 3 doses em um único dia ou 7 doses por semana para mulheres e idosos (acima de 65 anos).
Já quando falamos de consumo abusivo, estamos levando em conta o que é definido pela Organização Mundial de Saúde – OMS, que seria o consumo de 60g ou mais de álcool puro (cerca de 4 doses ou mais) em pelo menos uma ocasião no último mês, indicador equivalente ao que foi utilizado na pesquisa citada.
Seja no "happy hour", depois do “baba”, no churrasco do fim de semana, ou qualquer outra manifestação cultural, encontro ou festa, é comum que tais momentos descontraídos, resultem facilmente em um consumo abusivo de álcool, por seus praticantes. É importante destacar que, apesar da atmosfera festiva, a moderação e a consciência sobre os limites individuais são essenciais para evitar consequências prejudiciais à saúde.
Talvez seja o momento de se perguntar, o “por que bebemos tanto? “, os motivos e as justificativas utilizadas podem ser diversas, o calor, a inibição social, aceitação, descontrole, não importa qual seja o caso, é essencial que se faça uma reflexão a cerca de tais comportamentos. Será que aí existe algo que eu não suporto, será que algo que transparece, más, que não é real aparece neste momento?
A relação entre saúde mental e consumo de álcool é complexa e merece atenção especial, pois, enquanto muitas pessoas recorrem ao álcool em busca de relaxamento ou alívio do estresse, outras, tem uma ligação mais profunda e disfuncional com o mesmo, é fundamental compreender os impactos dessa escolha, e como ela reverbera na saúde mental.
O álcool é um depressor do sistema nervoso central, e seu consumo excessivo pode contribuir para o agravamento de condições como ansiedade e depressão. Embora muitos indivíduos possam experimentar uma sensação temporária de euforia, o uso contínuo pode levar a uma espiral negativa, exacerbando os sintomas e criando um ciclo prejudicial.
Além disso, o álcool pode interferir no funcionamento dos medicamentos psicotrópicos utilizados para tratar transtornos mentais, prejudicando sua eficácia e aumentando os riscos associados ao não tratamento adequado.
É crucial promover uma abordagem equilibrada e consciente em relação ao consumo de álcool, especialmente para aqueles que lidam com questões de saúde mental. Buscar apoio profissional, seja de psicólogos, psiquiatras ou grupos de apoio, é fundamental para compreender as motivações por trás do consumo e desenvolver estratégias mais saudáveis de enfrentamento.
A conscientização sobre os riscos potenciais e a busca por alternativas seguras para lidar com a vida, são passos importantes na construção de uma relação mais equilibrada entre a saúde mental e o consumo consciente. Campanhas de conscientização, programas de prevenção e esforços para promover um consumo responsável são fundamentais para equilibrar as comemorações nas tradições festivas, com a necessidade de preservar a saúde e o bem-estar social.
A falta de conscientização sobre os perigos do consumo excessivo de álcool é uma preocupação crescente. Ações educativas e a disseminação de informações sobre os efeitos negativos à saúde são fundamentais para promover uma mudança de mentalidade e criação de escolhas mais saudáveis.
O papel dos profissionais de saúde e das autoridades governamentais é crucial nesse contexto, faz-se necessário investir em programas de prevenção, tratamento e reabilitação para aqueles que lutam contra a dependência química. Além disso, as políticas públicas de controle de vendas e a publicidade de bebidas podem desempenhar um papel vital na redução de danos.
Em resumo, embora o álcool seja uma parte integrante da cultura brasileira, é fundamental abordar o consumo de maneira responsável. A educação pública, a implementação de políticas práticas e o apoio aos indivíduos que enfrentam problemas relacionados ao álcool são passos importantes para mitigar os riscos à saúde associados a esse hábito.
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