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Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra.

  • Foto do escritor: Jader Gonçalves
    Jader Gonçalves
  • 20 de nov. de 2024
  • 6 min de leitura

Imagem gerada no app leonardo.ai utilizando o prompt: Crie a imagem de Zumbi dos palmares, rei do quilombo dos Palmares, um lutador, líder de valor, o nosso percursor, na luta pela liberdade do povo negro.
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Audio cover
Zumbi dos PalmaresEdson Gomes

"...Ao longo desses anos todos Que nós estamos no Brasil Ainda não somos livres, livres..."

Zumbi dos Palmares - Canção de Edson Gomes



Nesta quarta-feira, dia 20 de novembro de 2024, o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra é celebrado pela primeira vez como feriado nacional. Até 2023, a data era celebrada em seis estados e pouco mais de 1.200 cidades, e passou a ser comemorada em todo o país após a sanção da Lei nº 14.759, em dezembro de 2023, pelo presidente Lula.


Acredito que ao se estabelecer o dia 20 de novembro como feriado em toda esfera nacional, conquista-se um marco, tamanha a relevância da figura de Zumbi dos Palmares, da cultura e história afro-brasileira para o país. Pois, mais que uma comemoração, este dia constitui-se como um chamado para que toda a população possa refletir sobre a identidade do Brasil, a importância de valorizar suas raízes, as diferenças, e acima de tudo agir coletivamente para que tenhamos uma nação cada vez mais desenvolvida, diversa, igualitária, pautada nos princípios da equidade, social, racial, de gênero e etc.


A data de 20 de novembro foi escolhida, como um reconhecimento à história de resistência do povo negro, principalmente do povo do Quilombo dos Palmares. Localizado em um local de difícil acesso, formado na Serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco, por volta de 1580, onde hoje (2024) se encontra a cidade de União dos Palmares, no estado de Alagoas.


O quilombo foi alvo de muitas tentativas de invasão e ataques, ao longo de sua existência, enfrentou diversas expedições militares enviadas pelo governo para capturar suas lideranças e destruir seus assentamentos. Após várias tentativas frustradas pela organização e defesa do território, estabelecida pelos negros ali residentes, o governo recorreu ao bandeirante Domingos Jorge Velho, que foi incumbido de exterminar e destruir o quilombo e sua população, ao mesmo foi oferecido armas, terras e dinheiro. Culminando então no início do conflito que ficou conhecido na história como, a Guerra de Palmares.


Palmares foi o maior refúgio de negros da América Latina, chegando a reunir 30 mil pessoas, em sua maior parte, escravizados que rebelaram-se e fugiram dos engenhos da Bahia e de Pernambuco.


No ápice de sua população, o quilombo acabou sendo organizado em 10 mocambos, o local estendeu-se por um raio de quase 200km², desde as margens do Rio São Francisco em Alagoas até Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco, mostrando o tamanho de sua força, organização social, política e resistência.


Houveram grandes líderes do Quilombo dos Palmares, entre os quais destacam-se Aqualtune, Ganga Zumba, Zumbi e Dandara. Dandara, mulher de Zumbi, foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII e auxiliou Zumbi nas estratégias e planos de ataque/defesa do quilombo.


A sobrevivência dos quilombolas vinha das atividades desenvolvidas como a pesca, caça, plantação de milho, banana, feijão, mandioca, laranja e cana-de-açúcar. As mulheres faziam artesanato com materiais diversos como a cerâmica, o tecido e a própria palha das palmeiras. Daí o nome do quilombo, "Palmares", devido a abundancia da espécie da planta existentes na região.


Em 1694, o quilombo foi destruído e, em 20 de novembro de 1695, seu atual líder, Zumbi dos Palmares, foi assassinado, morto em uma emboscada após ser traído por um companheiro, Zumbi teve sua cabeça cortada e exposta em praça pública, na cidade de Recife.


Depois de mais de um século (de 1590 a 1694), chegava ao fim um dos símbolos da resistência à escravidão e da luta pela liberdade, daí a relevância e simbolismo da data que marca a luta histórica e contínua do povo negro, contra o racismo no Brasil. É por esta razão, que mais que comemorar, o dia 20 de novembro, ainda nos tempos atuais, segue sendo um marco de luta, pois as raízes, opressões e estigmas causados pela escravidão não foram extirpadas.


O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, onde por longos 388 anos desenvolveu sua economia totalmente dependente do trabalho escravo, em atividades de espoliação de riquezas humanas, minerais e naturais. Foram mais de três séculos de suor, sangue, lágrimas, derramados em locais onde se cometia todo tipo de crime e as mais terríveis torturas, em nome da extração de ouro, pedras preciosas, cana-de-açúcar, criação de gado e plantação de café, outorgadas e comandadas em nome do império de Portugal e do estado Brasileiro, a mão de obra escrava era a força motriz dessas atividades econômicas.


É somente após muita luta e rebelião do povo escravizado, que foi a fagulha e o próprio combustível para que qualquer organização da sociedade viesse, finalmente, após muito tempo, posicionar-se favorável a abolição, que resultou na Lei Áurea, ou Lei Imperial nº 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel e decretou o fim da escravidão no Brasil.


Portanto, 20 de novembro, dia da consciência negra, dia de Zumbi dos Palmares, tem muito mais significado e relevância social, na representatividade do povo preto, e em sua luta contínua contra as mazelas sociais. Pois mesmo em 2024, após 136 anos dita abolição da escravidão, o racismo ainda nos dias atuais, mostra-se uma ferida aberta.


Onde, por diversas vezes, os sujeitos, as instituições e mesmo a sociedade, tentam camuflar, diminuir e distorcer sua contribuição e envolvimento na manutenção de crimes, preconceitos e principalmente, na subsistência de formas de opressão e marginalização do povo negro, comportamento este que deve ser amplamente exposto e combatido com veemência.


Enquanto cidadãos, ao reconhecermos essa dolorosa herança escravagista que expõe a população afrodescendente ainda que maioritária do país, a ocupar as piores condições de emprego, renda, saúde, moradia, educação e cultura. Devemos então lutar para que possamos fazer do Dia da Consciência Negra, cada vez mais, um marco para refletir sobre os aspectos da desigualdade racial, a necessidade da luta antirracista e a indispensável valorização e reconhecimento da cultura afro-brasileira.


Se faz necessário, defender a importância do direitos humanos diante a violência cometida contra o povo negro até mesmo pelo estado/império, que não enxergava no povo negro traços de humanidade, pois se verificarmos os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948, veremos que nenhum destes ideais se aplicavam aos negros escravizados, o que comprova, que eram visto como qualquer coisa, menos humanos, o que não acontece, se compararmos como o homem branco era tratado.


Por fim, mas não menos importante, constitui-se como papel da Psicologia, a necessidade cada vez mais crescente de defender um compromisso ético, político, e de enfrentamento do racismo. Posicionamento que é essencial para que possamos entender e respeitar as especificidades culturais e históricas das populações afro-brasileiras, atravessadas pelo período de escravidão e suas consequências em um povo que carrega as marcas do colonialismo ainda hoje.


A importância de uma clínica "racializada" para além de valorizar a cultura negra, ressalta sua importância fundamental para a construção da nossa identidade enquanto nação. A psicologia deve ser comprometida com a luta antirracista, a desconstrução de estereótipos, com o fortalecimento da autoestima e da identidade de pessoas negras e na criação de espaços seguros para o enfrentamento do racismo.


Só assim poderemos compreender adequadamente as realidades que afetam tal população, entendendo as estruturas de discriminação racial, seus impactos na saúde mental e as desigualdades que dela decorrem.


Reafirmando nosso papel com a transformação social, onde o respeito à diversidade e à dignidade da população preta possa ser uma realidade.




Referências:


Líder Zumbi, do Quilombo dos Palmares, é morto em emboscada | History Channel Brasil. Disponível em: <https://www.canalhistory.com.br/hoje-na-historia/lider-zumbi-do-quilombo-dos-palmares-e-morto-em-emboscada#google_vignette>. Acesso em: 20 nov. 2024.


O aldeamento principal do Quilombo dos Palmares é destruído | History Channel Brasil. Disponível em: <https://www.canalhistory.com.br/hoje-na-historia/o-aldeamento-principal-do-quilombo-dos-palmares-e-destruido#google_vignette>. Acesso em: 20 nov. 2024.


SALDANHA, R. Dia 20 de novembro é feriado nacional? Entenda. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/dia-20-de-novembro-e-feriado-nacional-entenda/>. Acesso em: 20 nov. 2024.


NACIONAL, D. Feriado do Dia Nacional da Consciência Negra tem festas e atos no país. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-11/feriado-do-dia-nacional-da-consciencia-negra-tem-festas-em-todo-pais>. Acesso em: 20 nov. 2024.


Página - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1607>. Acesso em: 20 nov. 2024.


Conheça a Serra da Barriga. Disponível em: <https://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/conheca-a-serra-da-barriga>. Acesso em: 20 nov. 2024.


UNICEF. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos>. Acesso em: 20 nov. 2024.

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